De
alguma forma, tenho feito esta pergunta a mim mesmo ao longo dos
últimos 15 anos, desde que escrevi o artigo “O documento
eletrônico como meio de prova” (que, aliás, foi originalmente
publicado on line em 1998; somente em 1999, uma versão com
ligeiros acréscimos seria publicada em papel na Revista de Direito
Imobiliário).
Desde
então, meu
principal interesse
acerca desse assunto
sempre orbitou
em torno de
seus aspectos jurídicos:
papéis
que servem como instrumentos,
ou como prova de atos
e fatos jurídicos, poderiam
ser substituídos por arquivos de computador?
Ou, ainda,
autos judiciais poderiam ser
digitais? Estes
novos fenômenos estão hoje nos alcançando, embora eu ainda
considere que esta seja a
fronteira mais difícil para a utilização
dos meios digitais no
lugar do velho papel,
especialmente diante das muitas questões culturais ou
ligadas à segurança –
estas nem sempre bem
compreendidas –
que estão envolvidas
nessa
mudança. Mas
já escrevi longas linhas
sobre esse assunto e não é minha
intenção, neste
breve texto, resumir todos os aspectos envolvidos.
Ocorre
que, por vezes, aquele
esforço com que este advogado
e professor de Direito
Processual
tenta abordar assuntos técnico-jurídicos ligados à Informática
cede espaço às tentadoras
especulações sobre aspectos políticos, sociais, econômicos e
culturais desta
nossa nova sociedade da informação, temas
diante dos quais eu talvez
não seja
mais do que um simples curioso. Nada
como escrever em um blog,
para podermos externar as nossas mais
despreocupadas reflexões!
Como
depois ressaltei em escritos posteriores, o fenômeno que prefiro
chamar de “substituição do papel” é anterior ao
desenvolvimento da Informática e ao aparecimento da Internet.
Suportes físicos de fácil mobilidade como o papel e seus
antecessores, o papiro e o pergaminho, foram por milênios o mais
eficiente meio de fixar e transmitir a informação. Com o avanço
tecnológico dos últimos dois séculos, o papel começou a ser
substituído por meios intangíveis de transmissão da informação:
vieram o telégrafo, o telefone, o rádio e a TV.
A
correspondência epistolar e os jornais noticiosos começaram, então,
a enfrentar a concorrência desses novos meios, que se afirmaram
amplamente em nossa sociedade moderna. O uso de cartas na comunicação
interpessoal perdeu sua primazia para o telefone. Mas o papel não
desapareceu. Como veículo de notícias, mesmo diante dos seus novos
concorrentes, encontrou seu espaço ao lado do rádio e da TV. Se
estas levaram vantagem pelo imediatismo e pelo impacto que causam a
voz falada e as imagens em movimento, as palavras escritas de jornais
e revistas ainda resistiram pelo oferecimento de maior profundidade,
pela sua portabilidade e, também, pela longevidade da fixação da
informação, que pode ser arquivada para futura releitura.
Mas
aí chegou a Internet...
Todos
os veículos de notícia foram aos poucos criando as suas versões on
line. Creio que não haja um só noticioso, seja da imprensa
escrita ou falada, que hoje já não esteja presente na Grande Rede,
ainda que nem sempre apresentando versões integrais de suas
notícias.
Jornais
e revistas em papel continuarão a existir?
Tomei
uma posição pessoal e definitiva sobre essa pergunta há uns dois
anos. Um erro da operadora de cartão de crédito, ou da própria
própria empresa jornalística – nunca soube bem ao certo o que
sucedeu – fez com que minha assinatura de jornal fosse
acidentalmente cancelada. Lia esse jornal desde a infância, pois meu
pai já o assinava. Adulto, segui com o hábito.
Certo
dia, porém, sentindo falta do jornal, telefonei para o atendimento
ao assinante, para perguntar o que tinha acontecido. E ouvi em
resposta que o corte ocorrera havia quatro meses, por
falta de pagamento! Por um instante, ainda ao telefone, fiquei mudo;
em seguida, refletindo melhor, notei que deveria fazer muito mais
de quatro meses que eu já não lia notícias no exemplar em papel...
Ele provavelmente só era usado para embrulhar o lixo, se tanto.
Perguntei apenas se eu devia algo e decidi deixar as coisas como
estavam.
Sob
todos os aspectos relacionados à eficiência, no mundo da
notícia não há concorrência possível do papel com os meios
digitais. O papel perde em todos eles. A Internet é ainda mais ágil
e instantânea do que o rádio e a TV; dispensável se mostra
compará-la com exemplares diários ou semanais. Jornais on line
tornaram-se portáveis
como o papel, diante da “onda”
dos telefones
celulares, tablets ou
outros dispositivos móveis já
existentes ou a inventar. O
jornal em papel precisa ser transportado
até a cidade do leitor,
enquanto
a Internet está em praticamente todo o planeta.
E é
possível, se
necessário, dar
mais profundidade ao
texto do que em
publicações em papel, pois veículos
digitais não sofrem
restrições
de espaço para encaixar a
matéria na apertada
diagramação.
Jornais
e revistas em papel ainda não acabaram por dois motivos. O
primeiro deles é que há
leitores inerciais (por mero hábito romântico,
ou por resistência
à tecnologia) e, enquanto
houver procura, haverá oferta.
O outro, mais
determinante, é
a falta de um modelo
empresarial comprovadamente
sustentável para
o jornal digital. De algum
modo, ambos serão
superados e
isso é
somente
uma questão de tempo. Quanto
ao segundo aspecto, é
possível afirmar que
encontrar o modelo sustentável no
momento certo
é o que determinará a
seleção das empresas de notícias
que continuarão a existir no futuro. Por
enquanto, todas elas estão fazendo suas experiências e apenas
flertando com o novo
paradigma, na tentativa de
conhecer melhor um futuro que certamente chegará.
Mas
o que realmente
me animou
a refletir sobre
a pergunta do título é notar que
há um outro campo em que o papel ainda parece reinar com larga
folga: o do mercado
editorial.
O livro eletrônico já não é novidade, mas o papel,
aqui, ainda parece resistir com tenacidade ao avanço da tecnologia.
Continuaremos ainda a ler livros em papel?
Deixo
essa questão para o
próximo post.
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