sábado, 29 de agosto de 2009

Meu escritório embaixo da árvore - 2


Já tratei da mobilidade em mensagem anterior, cujo título reproduzo novamente aqui. A cada vez que saio de férias, o tema me chama ainda mais a atenção. Quando será que conseguirei trabalhar sob a gostosa sombra de uma árvore? Como essa, no Parque do Caracol, em Canela (RS)?

Mal cheguei de férias, e uma notícia menciona o possível nascimento de uma nova geração de aparelhos, que estão sendo apelidados com a autoexplicativa palavra smartbook, uma fusão de smartphone com notebook.

Cada vez mais, está ocorrendo uma convergência destes aparelhos eletrônicos todos, que podem ser considerados verdadeiros computadores de uso geral.

Há alguns meses, estou me divertindo com um Internet Tablet N810, da Nokia, comprado no intuito de substituir, como agenda, o Palm TX que eu utilizava. O N810 é gerenciado por um sistema operacional Linux e, com algum "do it yourself", necessário para garimpar na rede e instalar alguns aplicativos mais, transforma-se praticamente em um computador "de verdade", com 200g de peso e que cabe no bolso do paletó. De tudo que pode ser instalado como extra, destaco, sob o ângulo profissional, o Open Office, a conhecida suíte de escritórios livre. A versão instalada no N810 é completa; não se trata, portanto, daqueles aplicativos para Palm, ou para celulares, que apenas abrem em formato nativo os arquivos de programas para desktop, mas trazem apenas um mero punhado de opções. O acesso à Internet pelo browser padrão, que veio pré-instalado, também é uma boa experiência: a tela tem 800 pixels de largura e um browser completo é capaz de ver as páginas da web em seu formato normal.

Levei o Tablet na minha última viagem de férias e, tendo algumas pendências profissionais para resolver durante aquele período, escrevi alguns textos no Open Office do N810, usando o pequeno teclado deslizante, e os remeti para o escritório. É utilizável! Escreve-se com os dois polegares e não se tem, claro, o mesmo conforto ou agilidade de escrever com dez dedos num teclado de desktop... mas, não creio que esse quesito seja esperado por quem carrega o computador no bolso. Como um plus, o N810 ainda substitui um GPS, o que é bem útil em viagens, e um outro aplicativo instalado me oferecia a previsão do tempo nos locais por que passei, a partir de serviços de meteorologia online. Divertido, realmente!

Ao chegar de viagem, encontro no escritório um aparelho E75, emprestado pela Nokia para um "test-drive" de uma semana. Este é um celular recém-lançado, com sistema Symbian, dotado de um teclado deslizante tão usável quanto o do N810. Para uso profissional ou corporativo, que é seu foco, pareceu-me atraente; quase compete com o N810, exceto pelas possibilidades deste decorrentes do sistema Linux e de sua enorme gama de aplicativos instaláveis, semelhantes aos que uso no meu computador de mesa. Caso lhes interesse, publiquei reviews dos dois aparelhos, contando minhas experiências, em um fórum tecnológico de que participo: sobre o N810 e sobre o E75.

Enfim, os equipamentos móveis estão evoluindo com muita rapidez e gerando um potencial interessante, como eu já havia escrito naquela mensagem de janeiro passado. Um detalhe a mais chamou minha atenção durante esta viagem: hotéis, já há um bom tempo, costumam oferecer acesso à Internet; mas surpreendeu-me saber que até uma hospitaleira pousada familiar, em São Joaquim, pequena e simpática cidade da serra Catarinense, já oferece serviço de wi-fi gratuito para seus hóspedes.

Acho que meu escritório embaixo da árvore já está disponível! Só falta aguardar que o Judiciário nacional implemente uma informatização verdadeiramente operante...

sábado, 8 de agosto de 2009

Eleições por celular? Socorro!

Já não somos mais os "campeões" da tecnologia eleitoral. Notícia divulgada na Folha Online informa que a Rússia, esta conhecida baluarte da democracia, está preparando eleições pelo celular.

Segundo divulgado pela Folha Online, "o sistema funciona, contamos com os equipamentos técnicos necessários e agora estamos afinando os aspectos jurídicos", explicou Gennady Raikov, membro da CEC responsável pela votação eletrônica. Sim... é claro que funciona! Mais um país está conseguindo ensinar computadores modernos a somar um mais um.... e agora à distância! Não é in-crí-vel?

Tentei uma busca pela Internet e não encontrei maiores informações. Gostaria de saber mais detalhes técnicos desta má idéia, para poder tirar minhas próprias conclusões sobre se o sistema realmente "funciona". E como funciona, que é o que parece ser mais essencial, porque somar um mais um e encontrar dois é algo que tenho absoluta certeza de que funcionará, ao menos nas demonstrações públicas... Curiosamente, acabei descobrindo que a Rússia não é pioneira nesta "altíssima" tecnologia para celulares. A Estônia foi o primeiro país no mundo a aprovar uma lei prevendo votação por aparelhos móveis, e utilizará esta "incrível" tecnologia em 2011. A notícia foi publicada, sem nenhum senso crítico, em alguns websites voltados para tecnologia móvel, como o Gizmodo ou o Engadget.

Qual o problema em votar pela Internet, ou pelo celular? Tecnologicamente falando, realmente não há nenhuma dificuldade. Dá para fazer coisas muitíssimo mais complexas pelo computador, pela Internet, ou com celulares, do que somar um mais um em um computador remotamente conectado. Fico realmente impressionado é em ver como a população média fica "encantada" com bobagens simplistas como essas.

Mesmo do ângulo puramente tecnológico, há um "pequeno" problema aqui, certamente minimizado pelos tecnoburocratas: não há como votar à distância se o voto não for identificado! Para que não se vote duas vezes, alguma maneira de identificação do voto do eleitor tem que ser implantada num modelo desses. Aparentemente, o voto será assinado digitalmente ou algo semelhante, para assegurar a existência de um único voto por eleitor remoto. O sigilo do voto acabou!

Mas há também o problema político e humano. A única maneira - ÚNICA, é bom falar alto! - de assegurar a liberdade de votar em quem o eleitor quiser é deixá-lo a sós na cabine de votação. Infelizmente, sair de casa para votar num local específico para isso, embora possa parecer antiquado e entediante, é o preço da manutenção de uma verdadeira Democracia.

Como assegurar liberdade ao eleitor, se não sei em quais condições, ou em que lugar, ou na companhia de quem (especialmente isso!) o eleitor se encontra no momento em que envia seu voto remotamente? Não posso dizer nada da realidade política e social da remota e gelada Estônia... mas conheço bem o meu país tropical: votação remota, aqui, significaria a vitória triunfante do voto de cabresto! E pela primeira vez na história política nacional, o cabo-eleitoral-comprador-de-votos vai poder ter a absoluta certeza de que o eleitor-vendedor realmente votou no seu "chefe". Se quiserem, podem substituir as expressões "comprador"/"vendedor" por "coator"/"coagido"...

Socorro!