terça-feira, 20 de julho de 2010

Eleições na Holanda: com lápis e papel

Ainda não esgotei tudo o que gostaria de dizer sobre a urna eletrônica nacional. Ainda retorno ao assunto. Por enquanto, vale replicar a notícia mencionada no título. Pois é, enquanto os brasileiros são levados a crer que o TSE é o campeão mundial da tecnologia eleitoral, a Holanda, segundo a notícia, voltou "a votar a lápis porque os computadores não garantiam a privacidade dos eleitores".

A Holanda, por certo, não é um país sem tecnologia, ou que não conheça a tecnologia, ou que não tenha recursos para financiá-la. O problema com eleições totalmente eletrônicas é conceitual: em um ambiente em que a transparência deva ser total, é impossível fazer uma votação totalmente eletrônica, auditável segundo padrões democráticos (o que é diferente de auditar um sistema privado) e que ao mesmo tempo assegure a privacidade e o sigilo do voto.

Ninguém conseguiu fazer isso! Nem o Brasil. Nas grandes democracias - e a Holanda é um exemplo delas - o maior nível cultural da população lhe permite entender o tamanho da encrenca, a sociedade civil pressiona e é ouvida (que inveja!), o poder político tem mais responsabilidade, enfim, há um quadro bem diferente do deste país tropical, de modo que as eleições 100% eletrônicas não emplacam nesses lugares. E a falta desse contexto todo é o que permitiu que emplacassem por estas bandas...

Se temos urna eletrônica, não é porque somos mais avançados tecnologicamente, mas porque somos mais atrasados social e politicamente!

3 comentários:

Anônimo disse...

olha só o tamanho da Holanda e o tamanho do Brasil.Acho muito melhor a urna eletronica é muito mais segura que a lápis. os dados são gravados em disquete e muitas urnas tem apoio a imprimir os votos. até os EUA usam urna eletrônica, lembra das eleições de 1999 em que houve suspeita de fraude? usavam cédulas de papel

Augusto Marcacini disse...

Caro Anônimo,
A dimensão territorial não faz diferença. Ninguém está falando de eficiência, mas de segurança quanto ao resultado representar fielmente a vontade do eleitor, algo que em eleições totalmente eletrônicas é impossível de auditar.
Os holandeses, pelo visto, não pensam que a urna-e é mais segura que o lápis.
Quanto aos EUA, nem o escândalo da Flórida os estimulou a usar a "nossa" urna. A imprensa, na época, divulgou que fomos lá oferer a urna para os americanos (...pausa para risada...), só que não falou mais no assunto, deixando de relatar que eles não gostaram nada dela.

Rodrigo Veleda disse...

A urna eletrônica no Brasil virou um peculiar objeto de orgulho nacional, algo tão peculiar que até mesmo o Paraguai corretamente rejeitou estas urnas que mais parecem fornos de micro-ondas. E isto que nem chegamos a falar no absurdo uso de biometria nas eleições, outra coisa que só existe no Brasil.