segunda-feira, 18 de março de 2013

Será o fim do papel?

De alguma forma, tenho feito esta pergunta a mim mesmo ao longo dos últimos 15 anos, desde que escrevi o artigo “O documento eletrônico como meio de prova” (que, aliás, foi originalmente publicado on line em 1998; somente em 1999, uma versão com ligeiros acréscimos seria publicada em papel na Revista de Direito Imobiliário).
Desde então, meu principal interesse acerca desse assunto sempre orbitou em torno de seus aspectos jurídicos: papéis que servem como instrumentos, ou como prova de atos e fatos jurídicos, poderiam ser substituídos por arquivos de computador? Ou, ainda, autos judiciais poderiam ser digitais? Estes novos fenômenos estão hoje nos alcançando, embora eu ainda considere que esta seja a fronteira mais difícil para a utilização dos meios digitais no lugar do velho papel, especialmente diante das muitas questões culturais ou ligadas à segurança estas nem sempre bem compreendidas que estão envolvidas nessa mudança. Mas já escrevi longas linhas sobre esse assunto e não é minha intenção, neste breve texto, resumir todos os aspectos envolvidos.
Ocorre que, por vezes, aquele esforço com que este advogado e professor de Direito Processual tenta abordar assuntos técnico-jurídicos ligados à Informática cede espaço às tentadoras especulações sobre aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais desta nossa nova sociedade da informação, temas diante dos quais eu talvez não seja mais do que um simples curioso. Nada como escrever em um blog, para podermos externar as nossas mais despreocupadas reflexões!
Como depois ressaltei em escritos posteriores, o fenômeno que prefiro chamar de “substituição do papel” é anterior ao desenvolvimento da Informática e ao aparecimento da Internet. Suportes físicos de fácil mobilidade como o papel e seus antecessores, o papiro e o pergaminho, foram por milênios o mais eficiente meio de fixar e transmitir a informação. Com o avanço tecnológico dos últimos dois séculos, o papel começou a ser substituído por meios intangíveis de transmissão da informação: vieram o telégrafo, o telefone, o rádio e a TV.
A correspondência epistolar e os jornais noticiosos começaram, então, a enfrentar a concorrência desses novos meios, que se afirmaram amplamente em nossa sociedade moderna. O uso de cartas na comunicação interpessoal perdeu sua primazia para o telefone. Mas o papel não desapareceu. Como veículo de notícias, mesmo diante dos seus novos concorrentes, encontrou seu espaço ao lado do rádio e da TV. Se estas levaram vantagem pelo imediatismo e pelo impacto que causam a voz falada e as imagens em movimento, as palavras escritas de jornais e revistas ainda resistiram pelo oferecimento de maior profundidade, pela sua portabilidade e, também, pela longevidade da fixação da informação, que pode ser arquivada para futura releitura.
Mas aí chegou a Internet...
Todos os veículos de notícia foram aos poucos criando as suas versões on line. Creio que não haja um só noticioso, seja da imprensa escrita ou falada, que hoje já não esteja presente na Grande Rede, ainda que nem sempre apresentando versões integrais de suas notícias.
Jornais e revistas em papel continuarão a existir?
Tomei uma posição pessoal e definitiva sobre essa pergunta há uns dois anos. Um erro da operadora de cartão de crédito, ou da própria própria empresa jornalística – nunca soube bem ao certo o que sucedeu – fez com que minha assinatura de jornal fosse acidentalmente cancelada. Lia esse jornal desde a infância, pois meu pai já o assinava. Adulto, segui com o hábito.
Certo dia, porém, sentindo falta do jornal, telefonei para o atendimento ao assinante, para perguntar o que tinha acontecido. E ouvi em resposta que o corte ocorrera havia quatro meses, por falta de pagamento! Por um instante, ainda ao telefone, fiquei mudo; em seguida, refletindo melhor, notei que deveria fazer muito mais de quatro meses que eu já não lia notícias no exemplar em papel... Ele provavelmente só era usado para embrulhar o lixo, se tanto. Perguntei apenas se eu devia algo e decidi deixar as coisas como estavam.
Sob todos os aspectos relacionados à eficiência, no mundo da notícia não há concorrência possível do papel com os meios digitais. O papel perde em todos eles. A Internet é ainda mais ágil e instantânea do que o rádio e a TV; dispensável se mostra compará-la com exemplares diários ou semanais. Jornais on line tornaram-se portáveis como o papel, diante da “onda” dos telefones celulares, tablets ou outros dispositivos móveis existentes ou a inventar. O jornal em papel precisa ser transportado até a cidade do leitor, enquanto a Internet está em praticamente todo o planeta. E é possível, se necessário, dar mais profundidade ao texto do que em publicações em papel, pois veículos digitais não sofrem restrições de espaço para encaixar a matéria na apertada diagramação.
Jornais e revistas em papel ainda não acabaram por dois motivos. O primeiro deles é que há leitores inerciais (por mero hábito romântico, ou por resistência à tecnologia) e, enquanto houver procura, haverá oferta. O outro, mais determinante, é a falta de um modelo empresarial comprovadamente sustentável para o jornal digital. De algum modo, ambos serão superados e isso é somente uma questão de tempo. Quanto ao segundo aspecto, é possível afirmar que encontrar o modelo sustentável no momento certo é o que determinará a seleção das empresas de notícias que continuarão a existir no futuro. Por enquanto, todas elas estão fazendo suas experiências e apenas flertando com o novo paradigma, na tentativa de conhecer melhor um futuro que certamente chegará.
Mas o que realmente me animou a refletir sobre a pergunta do título é notar que há um outro campo em que o papel ainda parece reinar com larga folga: o do mercado editorial.
O livro eletrônico já não é novidade, mas o papel, aqui, ainda parece resistir com tenacidade ao avanço da tecnologia.
Continuaremos ainda a ler livros em papel?
Deixo essa questão para o próximo post.

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